terça-feira, 2 de agosto de 2011

Os perigos da autoestima



Já virou uma espécie de mantra, repetido por psicólogos, educadores, professores, gerentes de recursos humanos, pais, amigos e toda uma penca de profissionais: "Você precisa ter autoestima". Esse seria o segredo para vencer na vida, afirmam alguns deles. Para outros, é chave para a felicidade.

Qualquer revista feminina terá, se não uma seção ou reportagem a respeito, no mínimo, uma menção à autoestima em algum texto. Quem tem filhos já deve ter recebido o conselho de incentivá-la em seus pimpolhos para lhes dar a autoconfiança necessária para superar os desafios que terão de enfrentar. Uma busca no site da Livraria Cultura resulta em 500 livros com a palavra em seu título, muitos ensinando como manter a autoestima ou aumentá-la.

Ora, mas se tanto esforço tem sido feito para ampliar a boa opinião que temos de nós mesmos, por que tanta gente entra em depressão? Por que a falta de satisfação consigo mesmo é um sentimento tão comum? A resposta pode estar exatamente no exagero da autoestima. 
É o que argumenta a psicóloga americana Kristin Neff, para quem a busca por uma autoestima elevada tornou-se uma espécie de religião. Para ela, a cultura competitiva existente nos EUA - e também no Brasil - diz às pessoas que elas têm de ser especiais e acima da média para se sentirem bem consigo mesmas. Ora, mas é impossível todo mundo ser acima da média ao mesmo tempo, não é? O resultado é a insatisfação contínua.

Kristin Neff propõe um antídoto: a autocompaixão, palavra que dá título ao livro que ela lançou em abril passado (Self-Compassion). Trata-se de ser compreensivo com os próprios erros e o sofrimento decorrente deles. No fim das contas, é o mesmo que aceitar nossos limites humanos. 
Não somos todos especiais o tempo inteiro, nem sempre podemos ter o que queremos, muitas vezes nem mesmo o merecemos. Frustrações são uma constante na vida e é preciso aceitá-las.

Mas cuidado. É preciso evitar a autopiedade, aquela coisa de ter pena de si mesmo: "Ai, coitado de mim". E também a autocomplacência: "Ah, já que eu não consigo, deixa isso para lá". No fim das contas, ter autocompaixão ainda é acreditar em si mesmo, mas sabendo que a derrota é mais comum e provável que o sucesso.

(Da redação)